Pastoral de la comunicación

P. Thiago Sardinha. Jovem e conectado

(Oglobo – Brasil).— Desde abril do ano passado, cabe ao padre Thiago Sardinha de Jesus comandar a igreja que é símbolo de um bairro inteiro e um dos cartões-postais da cidade. A partir da ocasião, o Santuário da Penha ganhou, então, mais um motivo para valer a visita. Ou melhor, dois, com o mais recente atrativo surgindo no mês passado. Além do padre cantor (que chegou a ser convidado para gravar CD, mas recusou para não atrapalhar a missão pastoral) e garoto-propaganda do templo nas mídias sociais, em junho a igreja foi elevada à designação de basílica.

 

O upgrade foi resultado de dossiê montado pelo jovem religioso de 32 anos e enviado ao Vaticano. No documento, ficou comprovada a importância histórica do local para a cidade e para a Arquidiocese do Rio, assim como a sua relevância artística e o alto grau de devoção popular à igrejinha erguida em cima de uma rocha a 111 metros do solo.

 

A missa para celebrar o reconhecimento pelo Papa Francisco vai ocorrer no dia 2 de outubro, em festa que contará também com feijoada e apresentações do bloco Cacique de Ramos e da escola de samba Imperatriz Leopoldinense, conta, empolgado, Sardinha de Jesus.

 

Entre os planos dele para um futuro não muito distante está a construção de um espaço multiuso com capacidade para abrigar sete mil pessoas sentadas e outras dez mil em pé. A ideia é que a estrutura possa, além de abrigar missas, ser palco de eventos culturais e de entretenimento. A agenda do espaço teria, inclusive, intensa programação com rodas de samba. Um plano que pretende incrementar o número de visitas à Basílica Santuário da Penha, colocando-a de vez no circuito turístico da cidade.

 

— Já conversamos com algumas pessoas da prefeitura para criarmos também um circuito por algumas igrejas do Rio que têm maior apelo histórico e arquitetônico. É algo que falta. Também quero futuramente contratar um guia de turismo para fazer um tour guiado por aqui, que seria um diferencial — diz ele. — A igreja é conhecida, mas são poucos os turistas que vêm aqui. Temos potencial para muito mais. As agências de turismo acabam se limitando aos roteiros na Zona Sul, com medo da violência. Quero convidar agentes de turismo e mostrar que não terão problemas em trazer os visitantes.

 

Todo esse esforço em fazer a basílica ganhar o apoio do público após o reconhecimento do Vaticano foi uma das razões que fizeram o padre ser escolhido por Dom Orani Tempesta para assumir o local. Ele cita, um pouco sem graça, os predicativos que o colocaram à frente do símbolo do bairro onde foi criado:

 

— Nasci na Tijuca e fui criado na Penha, mas Dom Orani nem sabia disto, foi uma coincidência. Quando ele me chamou para conversar e disse que precisava de mim aqui, falou que tinha que ser alguém que fosse pastoral, criativo e tivesse a capacidade de animar e interagir com os fiéis. Fico feliz por hoje perceber que existem mais jovens na nossa igreja.

 

Também pudera. Uma das formas que Thiago encontrou de “bombar” o local e difundir para mais pessoas a palavra de Deus foi usando as redes sociais, habitat da atual juventude. No Facebook, ele estrela vídeos apresentando as atividades da igreja e chamando o público para a basílica com desenvoltura de apresentador de programa de TV. E mostra ter senso de oportunidade: o arraiá promovido no fim de semana passado aos pés do templo contou até com transmissão ao vivo. O conteúdo dos vídeos e a cobertura da rotina da igreja também são divulgados no site e em conta no Instagram. O nascedouro das hashtags, ele explica, só não é explorado porque constatou que a rede social não daria retorno de audiência esperado.

 

— Fizemos uma pesquisa e optamos por não trabalhar com o Twitter porque são poucos os fiéis que são usuários desta rede. O Papa Francisco tem um grande número de seguidores lá, mas não dá para comparar. O apelo dele é mundial — argumenta.

 

Ainda que apresente desenvoltura, o padre mostra ser pouco vaidoso, como pede o sacerdócio, e dispensa levar sozinho os louros pela elevação do Santuário. Credita o feito à comunidade, à Arquidiocese, à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e também ao trabalho de seu antecessor, o padre Serafim Fernandes, que esteve à frente da igreja por 18 anos e saiu para voltar a Portugal, seu país de origem.

 

— Quando cheguei, encontrei alguma resistência dos fiéis, o que é normal, já que o padre Serafim é muito querido. Pouco a pouco, com o tempo, pude mostrar o meu trabalho. Sou muito feliz aqui. Considero estar à frente da Basílica Santuário da Penha um presente de Deus.

 

O chamado com o Papa

 

O Papa, hoje santo, João Paulo II, em sua visita ao Brasil em 1997 — célebre pela declaração do Sumo Pontífice de que “Se Deus é brasileiro, o Papa é carioca” — falou a milhares de fiéis no Aterro do Flamengo. Entre eles estava o garoto Thiago Sardinha de Jesus, que naquela data, 5 de outubro, completava 14 anos. Estar na presença do Papa fez o garoto descobrir sua vocação religiosa.

 

— Fiquei admirado com o carisma dele e falei para a minha mãe que queria ser padre. Ela achou que era fogo de palha e não me deixou ir para o seminário, me proibiu e disse que eu era muito novo. A ficha dela foi caindo aos poucos, que era isso que eu realmente queria. Mais tarde, com 18 anos, já formado como técnico em informática, falei que ia seguir mesmo a vida religiosa. Aí ela levou a sério — relata.

 

Feliz com a escolha, ele conta, orgulhoso, que a decisão ainda promoveu um outro efeito inesperado na família.

 

— Minha mãe largou o cigarro após anos fumando. Quando eu perguntei o porquê, ela disse que não pegava bem mãe de padre fumar. Ela ainda se interessou de tal maneira pelo meu destino que, durante o seminário, me passou a frente nos estudos em teologia — conta ele, pontuando que no Seminário São José Rio de Janeiro, no Rio Comprido, onde estudou, é preciso cursar, primeiramente, três anos de filosofia e, depois, quatro anos de teologia.

 

A proximidade com a família é outro fator que faz o religioso agradecer aos desígnios de Deus. Antes de assumir o Santuário, ele passou por igrejas na Barra da Tijuca e em Ricardo de Albuquerque.

 

— Meus pais e meu irmão mais novo ainda moram no bairro. É ótimo estar perto deles. Onde morávamos quando eu era novo, dava para ver a igreja da Penha do meu terraço. Eu nunca podia imaginar que um dia eu assumiria esse posto — lembra.

 

Quando perguntado se existe cola no seminário, o padre demonstra bom humor com uma sonora risada. Depois, confessa:

 

— Há cola, sim. Afinal, filosofia é difícil. Mas detesto cola, nunca fui disso. É pecado e é plágio.

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